por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá
“Eu observava… o modo como meu pai olhava um passarinho deitado de lado à margem da calçada perto da nossa casa. – Está morto, pai? Eu tinha seis anos e não sentia a coragem de olhá-lo. – Por que morreu? – Tudo o que vive, deve morrer. – Tudo? -Sim – Tu também, papai? E mamãe? – Sim – E eu? – Sim, disse ele. Depois acrescentou: – Mas será talvez depois de ter vivido uma boa e longa vida, meu filho. – Eu não consigo compreender. Fiz um esforço para olhar o passarinho. – Tudo o que vive, será um dia como esse passarinho? Por quê? Perguntei. – Foi assim que o Eterno fez o seu universo, meu filho. – Por quê? – Para que a vida seja preciosa, meu filho. Uma coisa que tu possuas para sempre, nunca é preciosa.”
No evangelho do Quinto Domingo da Páscoa encontramos mais uma comparação que Jesus faz dele mesmo e do Divino Pai. Ele diz: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor” (Jo 15,1). A exemplificação continua com o trabalho do Pai que corta os ramos que não produzem e limpa os frutíferos para que produzam mais. Para serem produtivos os ramos devem “permanecer” sempre unidos ao tronco da videira que é o próprio Jesus. Separados dele os ramos não produzem frutos, aliás, não podem “fazer nada” (Jo 15,5). Sem “união” com Jesus os ramos secam, são lançados ao fogo e queimados. A “união” dos ramos com a videira acontece através da palavra de Jesus que “permanece” nos discípulos. Consequência desta união será a fartura de frutos para a glória do Pai e a certeza de ser atendidos em suas invocações.
Neste trecho do evangelho de João, duas palavras são repetidas inúmeras vezes: o verbo “permanecer” e a palavra “frutos”. Devem ser importantes. Entendemos que o sentido do “permanecer” “com” ou, melhor, “em” Jesus não quer dizer ficar parados como se isso correspondesse ao estar sempre num mesmo lugar. Ao contrário: é um participar ativamente daquela vida humano-divina que o Mestre viveu e ensinou. Por isso é muito clara a comparação com a videira e os ramos. Algo “vital” passa do tronco para os ramos para que estes possam desenvolver e produzir frutos. Sem esta “linfa” os ramos secam.
O que será esta força vital? Pode ser o amor, a fé, o desejo de seguir Jesus e de continuar a sua obra na construção do Reino de Deus. Pode ser também a “comunhão” entre nós e com Jesus. Esta “comunhão” é, sem dúvida, algo pessoal, porque têm muito valor os frutos de bondade que cada um de nós consegue produzir em sua vida. Contudo, têm frutos que podemos, ou devemos, “produzir” juntos porque a união dos cristãos seria o sinal visível e maravilhoso que estamos unidos, acima de tudo, porque seguidores do único Senhor e Mestre. As nossas divisões enfraquecem o testemunho daquilo que dizemos acreditar. Quando falamos mal dos nossos irmãos na fé, quando nos separamos entre nós, não ficamos afastados somente dos demais, acabamos ficando longe do próprio Jesus. Não adianta cobrar paz, justiça, união entre as nações da terra se usamos o nome dele para defender os nossos particularismos. Divididos ou até contrapostos vamos secar e morrer. Parece ouvir de novo a oração de Jesus na última ceia: “Pai que todos sejam um, como tu Pai estás em mim, e eu em ti” (Jo 17,21).
Talvez a “comunhão” entre nós e com Jesus seja ao mesmo tempo fruto e condição para produzir com abundância outros frutos de bem para toda a humanidade. A comparação da videira e dos ramos me parece ser um convite sério a participar da vida comunitária. Ainda têm cristão e cristã que teimam em ficar isolados, acham que a fé e a vida cristã seja algo individual que não precisa ser partilhado com outros irmão e irmãs. Parece que não acreditam que Jesus está vivo e presente na comunidade que celebra e mantem viva e atual a sua memória. Jesus nos evangelhos fala muito de “vida”, vida “eterna”, vida “plena”. Se a vida que passa é um bem tão precioso, justamente porque não a possuímos para sempre, o que pensar da “vida plena”, da vida de Deus, da verdadeira vida, que podemos perder afastados de Jesus e dos irmãos? Vamos caminhar juntos!
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