por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá
Eis uma estória totalmente imaginária. Quando Jesus ressuscitado chegou ao céu houve uma grande festa marcada por cantos e muita alegria. Finalmente, os anjos tiveram a oportunidade de falar com Jesus. Um deles observou: – Agora sim, o Reino de Deus foi implantado na terra! Para a surpresa de todos, Jesus respondeu: – O Reino apenas começou. Resta agora a tarefa de vivenciá-lo. O anjo quis saber: – E quem irá cumpri-la? Jesus respondeu: Deixei lá um punhado de homens e mulheres que levarão essa missão até o fim. – Mas, e se eles não assumirem a tarefa com seriedade? Perguntou o anjo preocupado. – Neste caso, o Reino não acontecerá – disse Jesus. Mas, para espantar os temores, o Mestre completou com segurança: – Mas eles não falharão!
Neste domingo celebramos a solenidade da Ascensão do Senhor. Os evangelhos e, neste caso também os Atos dos Apóstolos, não apresentam tanto raciocínios ou questões teológicas, usam a forma da narração para nos ajudar a entender e acreditar. Cabe a nós perceber a mensagem. Nós cristãos acreditamos que com a morte de Jesus na cruz encerrou o tempo da humanidade do Deus Filho que Deus Pai tinha enviado. Cumprida a sua missão, Jesus ressuscitado participa agora da glória do céu. Não será mais possível, portanto, encontrá-lo, nesta nossa realidade material, passageira e mortal, como naqueles anos que passou neste mundo. Esta é a primeira consideração que devemos lembrar para entender o que o evangelho de Marcos (16,19) e os Atos dos Apóstolos (1,9) querem nos dizer com as palavras “Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus”. Antes deste momento, seja no evangelho, seja nos Atos, Jesus envia os discípulos “pelo mundo inteiro” ou “até os confins da terra”. Ou seja, ele quer que a obra por ele iniciada continue envolvendo, a partir de então, todos aqueles e aquelas que acreditarem nele e no valor da sua proposta. Os discípulos tem uma “boa notícia” que devem anunciar e testemunhar: a vitória do amor e da vida sobre o mal e a morte. A difusão e a construção do Reino de Deus, iniciado com a própria pessoa de Jesus, terá que passar pelo caminho da cruz para chegar à sua plena realização. Por isso o evangelho de Marcos deste domingo fala de ameaças de “demônios”, serpentes e venenos mortais. Mas os demônios serão expulsos, os venenos não causarão mal, a saúde voltará com a imposição das mãos e com novas línguas serão alcançados novos povos. Será uma verdadeira e grande missão, ao longo dos tempos e no meio da humanidade, até a volta do Senhor (At 1,11), um término a nós desconhecido. O último versículo do evangelho de Marcos, lido neste domingo, conclui: “Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20).
A Ascensão é a festa da confiança do Senhor Jesus nos seus seguidores. Ele nos conhece muito bem. Sabe das nossas fraquezas, desânimos, altos e baixos. Contudo nos entregou a continuidade do Reino que é de Deus, sem dúvida alguma, mas também se torna “nosso” porque somos chamados a colaborar na difusão e na construção dele. (cfr. Oração Eucarística V). Parece uma tarefa superior às nossas forças. No entanto, as parábolas do Reino que encontramos nos evangelhos nos falam de algo muitas vezes simples ou escondido que cresce e é descoberto no seu grande e misterioso valor. Deus fez o mesmo com a criação; a entregou em nossas mãos para que cuidássemos dela e pudesse ser um jardim de paz e fraternidade. Estamos muito longe de realizar isso, mas cada dia somos obrigados a reconhecer que o único caminho para a sobrevivência da vida neste planeta exige o esforço, a boa vontade, a união de todos. Digamos que Deus fez o necessário, criou até os jardineiros inteligentes para que se envolvessem na bondade e na beleza da obra. Igualmente para o Reino de Deus. Jesus começou, mas não pode impor a nossa colaboração porque respeita a nossa liberdade. Somos ainda só um “punhado” de homens e mulheres? Vamos falhar? Não. Ainda temos muitos sinais da sua presença.
Artigos Anteriores
ESTE HOMEM CONHECE O PASTOR
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de MacapáAo final de um jantar em um castelo inglês, um famoso ator entretinha os hóspedes declamando textos de Shakespeare. Disse que, a pedido, estava disposto a declamar outro textos. Um tímido padre que estava lá sugeriu...
O REFLEXO
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de MacapáUma mulher foi até a fonte do seu vilarejo. Era um pequeno espelho de água limpa e tinha arvores ao redor. Quando ela colocou o seu pote para pegar a água, viu um fruto colorido que parecia dizer para ela: - Me pegue!...
QUARESMA E CAMPANHA DA FRATERNNIDADE 2
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de MacapáA página evangélica da Transfiguração do Senhor (Mc 9,2-8), que encontramos no Segundo Domingo da Quaresma, está bem no centro do escrito de Marcos. Além do acontecimento extraordinário deixamo-nos conduzir pela...
QUARESMA E CAMPANHA DA FRATERNIDADE 1
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de MacapáTodo ano a Quarta Feira de Cinzas marca o início do Tempo Litúrgico que chamamos de Quaresma. Será uma caminhada de quarenta dias acompanhando Jesus rumo à sua Páscoa de Paixão, Morte e Ressurreição. Como cristãos...
NUNCA VAI SE ARREPENDER
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá“Você nunca vai se arrepender de fazer o melhor possível, ser gentil com todos, escutar antes de julgar, refletir antes de falar, fechar os ouvidos às fofocas, ser fiel aos seus princípios, ser bondoso com os...
BOMBEIRO DE VERDADE
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá- A doença de seu filho não tem cura. Não há mais nada a ser feito. Disse o médico à mãe do menino. Ela sabia das condições do seu filho. Por isso aproximando-se dele, lhe perguntou qual era o seu maior sonho. Ele...
SÓ DEUS TEM PODER SOBRE TI
Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, Bispo da Diocese de Macapá.
NÃO É FÁCIL
Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, Bispo da Diocese de Macapá.
O QUE ESTÁS PROCURANDO?
Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, Bispo da Diocese de Macapá.
EPIFANIA – MAIS OFERTA, MAIS ALEGRIA
Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, bispo da Diocese de Macapá.
OS TRÊS BEIJOS
Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, bispo da Diocese de Macapá.
OS DOIS BURRINHOS
Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, bispo da Diocese de Macapá.
FALAR À TOA
Artigo semanal de Dom Pedro José Conti, Bispo da Diocese de Macapá
O TREM SILENCIOSO
Artigo semanal de Dom Pedro José Conti, Bispo da Diocese de Macapá
O NOVO MISSAL
Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, Bispo da Diocese de Macapá.
O REINO É BEM GOVERNADO
Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, Bispo da Diocese de Macapá.
FOLHAS E FRUTOS
Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, bispo da Diocese de Macapá.
O OVO DA EMA
Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, bispo da Diocese de Macapá.
ELE VIVEU COMO UM SANTO E MORREU COMO UM HERÓI
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá No dia 26 de outubro de 2007, Papa Bento XVI proclamou bem-aventurado Franz Jägerstätter que o próprio Papa definiu como um jovem objetor de consciência que lutou contra o nazismo durante a segunda guerra mundial e...
MISTER SMILE
por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá